domingo, 12 de junho de 2011

CARTÃO VERMELHO

A regra cinco das leis do futebol contempla a figura do árbitro e seus assistentes. Hoje, ainda existe o quarto árbitro. Ele, o árbitro, é a autoridade máxima dentro do campo. Faz cumprir as dezoito regras e, em geral, são definitivas.

A arbitragem brasileira nas décadas de 70 e 80 teve período excepcional. Muito pelos cariocas Armando Marques e Arnaldo César Coelho. Mas aqui entre nós, uma coincidência nas iniciais de nomes e sobrenomes acabou por consagrar o TRIO ABC DO APITO, formado por Agomar Martins, José Luis Barreto e José Cavalheiro de Moraes, este, meu pai.

Assim que deixava a proteção dos túneis dos vestiários e colocava o pé no gramado já vinham ofensas. Ladrão, sem-vergonha, sem mesmo ter iniciado o jogo. Mas era e é assim. Estava acostumado com isso. Minha mãe, a vó e nós, filhos, ouvíamos cada coisa nas arquibancadas, sempre anônimos. Mas era e é assim.

E lá ia ele. “Não vai falar, não vai falar senão já vai sair”, indicava que a expulsão dos Pelés ou dos Falcões estava por vir.” Joga na bola Claudião”. “Quem manda aqui sou eu” gritava.

Carlos Martins, Luis Cunha Martins, Renato Marsiglia, Leonardo Gaciba, Carlos Simon, entre outros, surgiram a partir do trio ABC. Foi um marco na história do futebol gaúcho e brasileiro. Como disse o presidente do sindicato dos árbitros, o nome dele fica cravado na memória do futebol. Um deles em campo era garantia de show de arbitragem. Contestações dali e daqui, mas sempre com seriedade e profissionalismo.

No último dia 3, o pai nos deu um cartão vermelho. Nos deixou, penso que prematuramente, pois talvez ainda pudesse lutar contra a doença.Mas foi assim que Deus desejou. Para mim está complicado assistir esportes na televisão. Falava com ele várias vezes por dia comentando futebol e outros esportes.

O trio ABC perdeu um de seus membros. Meu pai, com muito orgulho.