segunda-feira, 8 de novembro de 2010

educação, OLIMPÍADA , COPA DO MUNDO E EDUCAÇÃO

Vôo 3481, da TAM, partimos de Maceió às 05:20 hrs. do último sábado, dia 06. Nas poltronas dianteiras, em ambos os lados, usuários de cadeira de rodas. O ppd do lado oposto ao nosso, acompanhado dos pais, bastante dependente, passou por constrangimento por ter utilizado aquela poltrona, por ordem da chefe de cabine do referido vôo. Uma senhora sem maiores problemas físicos aparentes, era a dona da poltrona. Cedeu o lugar, mas saiu absolutamente insatisfeita e contrariada, ainda que tenha ficado sozinha na poltrona que lhe foi destinada, ficando as outras duas vazias. educação não se aprende na escola. É originária do berço.
Pousamos em Brasília abaixo de chuva, às 08:30 hrs. A conexão para Porto Alegre seria efetuada às 09:42, no vôo 3073 da mesma TAM, com embarque a partir de 09:02. Ficamos trinta minutos dentro da aeronave aguardando a máquina que desceria com as cadeiras de rodas. Os passageiros desceram pela escada, diretamente nos ônibus que os levariam até o saguão do aeroporto, sempre sob forte chuva. O Aeroporto Internacional de Brasília não possui túneis suficientes para atender a demanda de aeronaves na capital federal. Segundo os funcionários de terra da própria TAM, naquele momento o equipamento atendia um vôo da GOL. Finalmente descemos pela máquina que efetua a reposição das refeições nas aeronaves, pela porta dianteira direita. Por sorte, minha cadeira veio inteira, o que não ocorreu com o outro deficiente, cuja cadeira de rodas não foi montada por ter subido aos pedaços, somente com os pedais, sem o quadro. Usou cadeira da própria TAM. Correria, cheguei ao saguão, para que pudesse ir até o banheiro, já que nas aeronaves... Restando tão somente dez minutos para a partida do vôo com destino a Porto Alegre, andávamos novamente na tal máquina. Finalmente chegamos ao avião. Vamos embarcar. Nada. O tal equipamento só possui força para levantar cinco pessoas e estávamos em sete. Minha esposa sugeriu que os andantes saíssem da máquina para que eu pudesse embarcar e um outro deficiente fôsse até sua conexão. O motorista resolveu tentar. Funcionou. E novamente, pela porta da direita da aeronave, embarcamos de volta para casa. Pode um aeroporto com o movimento intenso como é o caso de Brasília ter apenas uma máquina? Onde andam a Infraero e a Anac? Justamente em aeroporto com forte demanda de deficientes em virtude de Brasília ser a sede do hospital Sara Kubitschek? Mas será que neste país nada funciona? Como farão para sediar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo?
Partimos às 10:15 hrs e, para apagar em parte a péssima imagem que ficamos, uma grata surpresa. A chefe de cabine do vôo 3073 da TAM. Catia Simone, pessoa educada, atenciosa, competente. Nasceu para lidar com gente. Sem dúvida, essa EDUCAÇÃO é diferente daquela da senhora do primeiro vôo.

MACEIÓ, QUALIDADE DE VIDA, SOBREVIVÊNCIA

Cidade espetacular. Com problemas, como qualquer outra grande capital. Mas para quem como eu, utiliza uma cadeira de rodas, as coisas são muito facilitadas. Prédios públicos e particulares com rampas de acesso. A maioria dos hotéis dispõe de facilidades para deficientes. Ao chegar no hotel, solicitei na recepção uma cadeira destas de beira de piscina, para que pudesse tomar banho. Bateram à porta e ao abrir, uma camareira ofereceu cadeira de banho adaptada. Não querendo ser deselegante, aceitei. Ocorre que já tive a tal cadeira e não me adaptei. Mas tenho utilizado, afinal, por dez dias... Aliás, o Hotel Ponta Verde é muito legal. Possui todas as condições de acesso aos cadeirantes como eu. Jangadas com acesso para deficientes nos passeios às piscinas naturais da Pajuçara, rampas de acesso aos barcos na praia do Francês e o mais impressionante, ao longo de toda a orla, pista para transeuntes e para bicicletas, absolutamente lisas, com excelente calçamento e planas. Para quem não conhece, as praias urbanas importantes de Maceió começam na Pajuçara e vão até Jatiúca, passando pela badalada Ponta Verde, em trajetória de alguns quilômetros, todos que podem ser percorridos em poucos minutos pelas tais vias. Em Maceió, não encontrei escolas de natação. Acho que nem poderia. Vi apenas uma academia de ginástica. Lembrei do GEPIMPE, da profi Daniela, da Amanda e da Simone, que lidam com educação física. Seriam personais de beira de praia? Acho que sim, pois atletas não faltam. Neste aspecto, a mais democrática de todas as cidades que conheço. Atividades físicas na praia estão disponíveis aos ricos, extra ricos, medianos e pobres, sem qualquer custo, bem como as belezas naturais. Físico, mente, emoções, psicológico, relações sociais, enfim, condições de vida de um ser humano são ótimas em Maceió, elevando o índice que mensura a qualidade de vida das cidades. Policiais andando pelas ruas? Vimos apenas um. Pedintes? Para nós, nenhum pedido. A Su, minha esposa, filosofou: os mendigos daqui são mais felizes que os outros. Até mesmo na Ilha Carlito, onde fomos no feriado do dia 2, as condições de acessibilidade são muito boas. Uma ilha pequenina em relação ao tamanho da Laguna e grande o suficiente para que colocassem piscina enorme e toda estrutura para que centenas de pessoas aproveitassem o dia lá. Comprova a tese de que apenas um pouco de boa vontade basta para facilitar nossa vida. Em uma das tardes, fomos até a praia em frente ao hotel. Lá chegando, imediatamente abordados por um alagoano de barracas. Alugam de tudo, barraca, cadeiras de praia, coletes salva vidas, cd para descarga de fotos, quem sabe até a mãe. De quebra, vendem churrasquinho, peixes, fritas e bebidas. Observadores das paisagens urbanas, passamos a prestar atenção na dinâmica utilizada pelos vendedores. Saboreando uma cerveja, questionamos um dos vendedores sobre a existência ou não de parentesco entre eles. Todos chamavam um menino, seus 13 ou 14 anos, “David, uma cerveja, David, uma batata frita, David, uma cadeira para a senhora lá”. Era o sobrinho de nosso interlocutor. Contou que nos momentos de folga da escola, trouxe o garoto para trabalhar e não pensar bobagens. A noção de higiene, possuíam. O cidadão que fazia churrasco, retirava o espetinho pronto de um plástico acondicionado na caixa de isopor e direto ao fogo, pincelando por vezes com manteiga. Quando pronto, bandeja minúscula, acompanhado de arroz retirado de um pote do mesmo isopor e farinha. “Leva lá David”, gritava o Zé churrasqueiro. Por volta de dez pessoas trabalhavam ali. Reparamos que apenas um nada bebia, além do David. Os demais, entre um espeto e outro, uma cerveja e outra, uma cachaça, purinha. Aumentou nossa curiosidade. Partimos para a agressão especulativa. Como é a rotina de vocês, perguntamos? Chegamos por volta de oitio horas como eles falam, diariamente. Saímos após o último cliente na praia. E dormem quando, indagamos? Ah senhor, isso quando dá. Sempre chego em casa, fico tomando cachaça e amanhã novamente aqui. Todo dia. E às 17:30 mais ou menos, monta toda a parafernália novamente e segue empurrando um carrinho. Para casa, descansar? Não, para nova cachaça.

Conversando sobre o tema, ficamos pensando qual a expectativa de futuro deles? Rigorosamente nenhuma. Contentam-se com tal vida, atendendo turistas diariamente, alguns educados e exigentes, outros nem tanto. Não há ambição. Apenas e tão somente o instinto de sobrevivência. Aceitam a realidade, sem o menor interesse em fazer algo que possa modificá-la. Consideram cômodo. E isso, lhes basta.